VIRANDO A PÁGINA: a tecnologia como aliada

Como a tecnologia vem afetando instituições consideradas fundamentais para a cultura, como as livrarias e as bibliotecas, e como agir para não sermos engolidos por essa nova onda de modernidade? 

Entrar no silêncio de uma biblioteca, respirar o aroma emanando das páginas dos livros e pesquisar por horas a fio para um trabalho da escola. Sentar-se numa poltrona com um livro no colo, se desligar do mundo real e mergulhar em outros, muito mais extraordinários e prazerosos. Costumava ser assim numa época não tão distante, mas o avanço tecnológico foi tão rápido quanto um meteoro cruzando o céu e, num instante, nos vimos assaltados por livros digitais, videogames, inteligências artificiais, redes sociais, celulares com sensores de retina e outras coisas que, antes, eram apenas cogitadas em (imaginem só) livros.

Nas grandes cidades, a tecnologia chegou com toda a força, abalando as estruturas da civilização e da vida básica do ser humano. Como resistir a essa avalanche de inovação, como sobreviver numa era tão digital? A tecnologia seria – e é – uma vilã? Ou seria uma aliada?

“A tecnologia alterou a forma de uso das bibliotecas. Estas permanecem como espaços de cultura e informação, principalmente em áreas mais vulneráveis da cidade onde o acesso aos equipamentos culturais é mais precário”, conta Juliana da Silva Santiago, bibliotecária da Biblioteca Monteiro Lobato e coordenadora do Sistema Municipal de Bibliotecas. Entretanto, a tecnologia não mudou as coisas para pior. De acordo com a bibliotecária, o número de visitantes da Monteiro Lobato aumentou desde que a coordenadoria implementou o Programa Biblioteca Viva, que busca revitalizar as bibliotecas municipais a fim de trazer diversificação na programação e atrações culturais gratuitas. “As bibliotecas da rede municipal registraram aumentos significativos de matrículas, frequência, consultas e empréstimos”, afirma Juliana.

De uma coisa, podemos ter certeza: é indiscutível que a informação resiste, independentemente das circunstâncias e das transformações pelas quais a sociedade passa. “Desde a história oral, passando pelas pinturas rupestres, registros em vasos e monumentos. O que muda com o passar do tempo são as diversas plataformas onde a informação é disponibilizada”, diz a bibliotecária a respeito da tecnologia. Podemos muito bem conciliar o antigo com o novo, o primitivo com o recém-chegado – por que não utilizar a tecnologia a favor da informação e da cultura? “O livro, por exemplo, pode mudar em formato físico, mas dificilmente perderá a sua função como suporte de informação e instrumento para formação do conhecimento”, incrementa.

O livro é e sempre foi a representação mais básica de conhecimento. Mas atualmente, o público parece estar se esquecendo disso. De acordo com o G1, desde 2007, mais de 21 mil livrarias foram fechadas no Brasil, tendo seu ápice em 2018. De acordo com Felipe Teixeira, relações públicas da Livraria Martins Fontes, o motivo do fechamento em massa das livrarias não é, no entanto, o avanço da tecnologia, e sim o fato de o público estar se interessando menos pela leitura. “Na minha opinião, as pessoas estão fazendo tudo menos. A audiência da novela é menor, as pessoas vão menos ao cinema, ao teatro, então elas fazem tudo menos porque você tem muito mais opções de entretenimento. As pessoas passam horas vendo os stories do Instagram, do Facebook e no WhatsApp”, revela ele. 

A alienação, o sedentarismo, o consumismo – todos esses termos referem-se a fatores que diminuem o interesse das pessoas pelos livros. Nanci Cruz Assumpção, de 73 anos e leitora voraz, encontra-se revoltada com a situação dos estabelecimentos. “A tecnologia, na minha opinião, veio para facilitar a vida das pessoas, mas em alguns pontos, ela atrapalha um pouco”, reclama. “O livro realmente une as pessoas. A livraria é um lugar perfeito para se reunir com quem gosta das mesmas coisas que você, para aprender sobre assuntos que te interessam, para conhecer outros mundos. E hoje, graças à tecnologia, quase não existe mais aquilo de entrar numa livraria e conversar com o vendedor sobre qual livro eu poderia comprar. É só clicar e pronto”.

De fato, tudo ficou mais rápido e instantâneo. Mas assim como nem tudo é um mar de rosas para a dona Nanci, também nem tudo é um monstro de sete cabeças para as bibliotecas e livrarias. Juliana, a bibliotecária, conta que a Monteiro Lobato têm instalado equipamentos inovadores para se adaptar aos tempos modernos. 

“Todas as bibliotecas sob responsabilidade da CSMB – Coordenadoria do Sistema Municipal de Bibliotecas – possuem internet wi-fi gratuito disponível aos usuários. Quinze delas contam com salas de informática denominadas “Telecentros”, com computadores e impressoras abertos ao público. Alguns deles disponibilizam, por meio de agentes mediadores, cursos de capacitação e oficinas ligadas à área de tecnologia que auxiliam na navegação pela internet e se dedicam ao letramento digital da população”.

A Biblioteca Affonso Taunay, na Mooca, São Paulo, conta, ainda, com laboratórios digitais mais modernos, atendendo grande parte da população em situação de rua que utiliza os albergues da região. Os equipamentos incluem uma tela que reage ao toque e um teclado adaptado para pessoas com deficiência, com teclas maiores e coloridas e um funcionamento mais intuitivo. “E ainda, em atenção à questão de difusão literária e acessibilidade, as 54 bibliotecas da rede contam com dispositivos de inteligência e visão artificial, que podem ser utilizados gratuitamente e têm como propósito promover acesso às pessoas cegas, com baixa visão, dislexia, déficit de leitura ou TDAH”, conclui Juliana.

Quanto às livrarias, resta melhorar a administração, conhecer mais seu público e, simplesmente, valorizar o produto livro. “A Amazon chegou abalando tudo”, comenta Felipe. “Então as pessoas começaram a buscar alternativas para comprar livros em outros lugares. E essas lojas gigantescas, como a Cultura e a Saraiva, não conseguiram se sustentar e aí falavam ‘ah, o livro tá vendendo menos, então vamos pôr mais brinquedo, vamos pôr mais DVD’, e não era esse o caminho”.

O mundo já passou por diversas transformações ao longo dos anos. Havia o comum, o normal, e então chegou o diferente, o inovador, a tecnologia que desnorteou os sentidos. É difícil para alguns se acostumar com o desconhecido, ainda mais para leitores calejados como a dona Nanci. “Eu acho que as livrarias e as bibliotecas estão ‘falecendo’. Acho que o mundo antigo está entrando em decadência, e eu, com 73 anos, posso garantir que às vezes eu prefiro como era antes”. Mas é importante lembrar que a tecnologia não veio para destruir tudo o que conhecemos hoje. Às vezes, e quase sempre, ela pode, sim, ser uma aliada.

NA PONTA DOS PÉS: a arte de dançar na ponta dos pés não tem gênero nem idade

Como o balé clássico atua não só como uma conexão com o passado, mas também como uma ferramenta moderna para redução do machismo e do preconceito, e na formação intelectual e cultural das crianças e dos adolescentes

São muitos os motivos que levam uma pessoa a escolher uma carreira. Alguns escolhem porque nascem com um sonho e o cultivam durante a vida, outros conhecem algo em um determinado momento e fazem disso um objetivo profissional, e outros ainda o fazem não por amor, mas por pressão, ambição ou manipulação da sociedade em geral. Todos valorizam muito a Medicina, o Direito, a Engenharia. Mas o que levou Helô Medeiros a escolher o balé foi, simplesmente, o amor. 

Aos 11 anos, ela percebeu que ficar na ponta dos pés era sua paixão, que o estúdio no qual entrou pela primeira vez lhe proporcionava uma liberdade jamais experimentada. “Paixão,  liberdade, mobilidade, criatividade, vontade, são palavras que descreveram aquele momento”, ela conta com ar sonhador.

De aluna dedicada, Helô logo passou para professora estimada. Começou de forma humilde, no quintal de casa, com chão rústico e sem nenhum espelho. E então, aos 25 anos, ela fundou o chamado Espaço Dança e Vida, ativo até hoje na Zona Norte de São Paulo. “Pela minha mão já passaram mais de 5.000 alunos”, revela Helô, orgulhosa. “Faz pouco tempo que me dei conta de que fui e sou referência para muita gente. Chegou a ser assustador no começo, mas hoje vejo o amor que sempre envolveu tudo isso. Amo o que faço. Todos os dias da minha vida têm sido maravilhosos. Acordo feliz porque darei aos outros a oportunidade de conhecerem a dança, descobrirem seu corpo e as infinitas possibilidades de movimentação que ele pode fazer. Com isso a energia vital atua na transformação cognitiva e emocional do aluno, trabalhando de forma holística e trazendo o equilíbrio tão importante para a manutenção da vida”.

De fato, o balé é uma excelente atividade física, trabalhando o sistema nervoso, emocional e intelectual de quem o pratica, com todos os seus movimentos delicados e precisos e coreografias complexas, desempenhando um papel fundamental no desenvolvimento cultural e, principalmente, social, das crianças e dos adolescentes. Representante aclamado da arte clássica, o balé ainda é visto por muitas pessoas como uma atividade exclusivamente feminina. De acordo com Helô Medeiros, o machismo está no cerne da história da humanidade. “Os próprios hormônios masculinos foram sabiamente desenvolvidos, dentro desta perfeita máquina que é nosso corpo, para a força bruta”, explica. “No início era caçar, pescar, prover para todos. Ou seja, ao homem cabia enfrentar a natureza pela sobrevivência de todos. Depois, com outros tipos de desenvolvimentos sociais, isso foi se canalizando para os pequenos nichos familiares, onde enfrentar a natureza com as próprias mãos não se fazia tão necessário. Assim o machismo cresceu muito”.

Muitos meninos escondem dos amigos, e até da própria família, o sonho de ser bailarino, por conta do preconceito incrustado na sociedade. Alvos de apelidos ofensivos e atitudes discriminatórias que machucam fundo na alma, os meninos formam uma minoria considerável nas escolas de balé, especialmente do Brasil, que é um dos líderes mundiais em questão de preconceito e machismo. Por conta dessa baixa procura, estúdios de balé como o Espaço Dança e Vida da diretora e dona Helô Medeiros, realizam programas de captação, oferecendo bolsas de estudo para incentivar os meninos a seguirem seus sonhos. 

“Nunca acreditei no estigma de que balé não é para homens. Sabemos hoje, de forma mais livre, que o gênero de uma pessoa não é definido pela profissão que ela tem”, afirma Helô. “O balé para mim é a soma equilibrada do homem e da mulher: a sutileza e delicadeza feminina somada com a força e energia masculina tão necessária para execução dos passos”, informa a diretora. Atualmente, o Espaço Dança e Vida conta com apenas seis alunos do sexo masculino: “Eles  precisam querer fazer a aula, assim como as meninas. Creio que ainda podem ficar constrangidos. Nossa sociedade ainda não é totalmente aberta a isso”, lamenta Helô. 

Para Guilherme Andrade, 28 anos, aluno do Espaço Dança e Vida, a carreira no balé começou tarde, já adulto, mas ele acredita que, para as crianças, deve ser muito mais difícil enfrentar o preconceito. “O machismo na sociedade faz com que a gente seja educado erroneamente e faz com que pensemos que existe gênero para atividades artísticas, esportes, vestuário, brinquedos, etc – o que não existe, pois não há gênero de cor, atividade e brinquedo”, ele constata. 

Diferentemente do que a sociedade pensa, os meninos também sofrem de autoestima baixa e insegurança. Nesses quesitos, o balé é ideal. Segundo Guilherme, “o balé me ajudou a conhecer melhor o meu corpo, os meus limites, coordenação motora, equilíbrio e noção de contratempo”. É preciso muita coragem para se apresentar diante de um grande público, e ainda mais coragem para enfrentar o preconceito. 

Diante de um futuro incerto, a diretora Helô Medeiros se divide entre o otimismo e a realidade. “Com 33 anos de escola eu entendo que, de nossos governantes, será difícil vir algum incentivo. Eu acredito no povo, na vontade, na ação de cada um. Hoje, tudo é rede. Isso é ótimo. A dança é transformadora dos padrões comportamentais e fortalecedora da personalidade, então, para mim, todos, independente do gênero, deveriam fazer balé. Sempre teremos pessoas preconceituosas, mas sinto uma abertura maior hoje a esse respeito”.

Guilherme ainda emenda: “o balé e todas as manifestações artísticas são necessárias na vida das crianças. Estimulam a criatividade e ajudam a saberem conviver em sociedade e com a diferença. Quanto aos meninos, inserindo eles no balé e nas artes, faz com que se tornem homens mais íntegros, que respeitam a mulher e o ser humano em geral, sem preconceitos e julgamentos”. E isso não os faz, de jeito nenhum, menos homens.

O mundo é cheio dessas dualidades, do bom e do ruim, da tolerância e da discriminação, do clássico e do moderno, mas todos podemos concordar que a arte, e em especial o balé, contribui não só para a cultura, mas para a formação intelectual e moral de quem o pratica, gerando crianças mais cultas, mais bondosas e simplesmente, mais humanas.

UMA LUTA FORA DO CAMPO

A batalha das mulheres contra o assédio nos estádios atinge proporções nacionais com o surgimento de campanha feminista

Thaís Odorissi Oliveira tinha apenas 13 anos quando, pela primeira vez, entrou num estádio para assistir ao seu amado Grêmio e ouviu da arquibancada um homem chamando seu pai de “sogrão”. Infelizmente, a realidade nos estádios ainda é essa para as amantes de futebol em pleno século XXI.

Não obstante, as profissionais do jornalismo esportivo também sofrem com a violência e o assédio num ambiente que é visto prioritariamente como masculino. Foram dois casos muito parecidos em 2018, com as repórteres Bruna Dealtry e Renata Medeiros, em que ambas as repórteres receberam beijos na boca de torcedores e alegaram ficar extremamente constrangidas e sem reação.

Os dois casos revoltantes com as respectivas repórteres serviram de empurrão final para uma causa que viria a nascer de forma humilde e determinada. Nesse contexto de desrespeito e humilhação para com as mulheres, surgiu, a princípio, uma hashtag no Twitter e, a partir dela, uma campanha feminista que ganhou força até atingir âmbitos nacionais. Segundo Thaís Odorissi, uma das criadoras da campanha, a #DeixaElaTorcer tem como objetivo incentivar mulheres a se expressarem e a exporem uma realidade que, muitas vezes, passa despercebida. “Muitos homens não têm a mínima noção do quão difícil é ser mulher e frequentar um ambiente masculino e hostil pra gente”, diz Thaís.

A campanha, criada por um grupo de amigas gremistas indignadas com a grande quantidade de assédio nos estádios, atingiu rapidamente os trending topics do Twitter, sendo aderida, inclusive, por outros times. “Clubes compartilharam nossa hashtag, e eu notei que a campanha serviu de alavanca para o assunto. Depois dela, outras campanhas surgiram e houve um aumento no número de mulheres denunciando, nas redes sociais, as agressões que sofreram”, emenda Thaís.

A luta das mulheres, agora, não está mais na escuridão. Thaís lembra que ela e suas amigas apaixonadas pelo Grêmio se uniram para formar a campanha e para poder falar de futebol sem sofrer ridicularização ou inferiorização. “É uma forma de denunciar a violência e demandar a atenção dos clubes, da mídia, dos torcedores, mostrando que o desrespeito não vai mais ser tolerado”.

Em estádios ou não, apaixonadas por futebol ou não, mulheres e meninas como Thaís, tanto a criadora da campanha como a menina que sofreu assédio aos 13 anos, têm o direito de ir e vir quando e como quiserem, com segurança e com respeito. “Nos preocupamos em sempre incentivar torcedoras ‘iniciantes’ a não deixarem de frequentar os estádios se elas ali desejarem estar”.

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NA PONTA DA LÍNGUA : O desafio de apresentar à população o consumo consciente de alimentos

A Feira de Sustentabilidade do Parque do Ibirapuera, São Paulo, em março de 2019, abordou temas como consumo consciente de alimentos e compostagem.

A Feira de Sustentabilidade Green Nation ocorreu em março deste ano no Parque do Ibirapuera entre os dias 25 e 31. O evento, gratuito, reuniu milhares de pessoas numa fila de mais de duas horas de espera e contou com atrações interativas e brincadeiras em grupo com o objetivo de conscientizar e sensibilizar o público a respeito da preservação do meio ambiente e de atitudes sustentáveis.

Entre programações divertidas e oficinas, o público pôde repensar, de maneira criativa, sua relação com a natureza. Os estandes variados ofereciam experiências inovadoras onde os visitantes redescobriam hábitos do cotidiano de uma forma totalmente diferente. Uma das atrações mais cobiçadas foi, de longe, a chamada de “Sabores e Sentidos”. Como o próprio nome indica, a atividade consistia em vendar os olhos dos participantes enquanto eles experimentavam comidas inusitadas. O ponto principal da experiência, entretanto, era o seguinte: os aperitivos oferecidos no estande eram nada mais, nada menos, do que partes usualmente não-utilizadas de alimentos, transformadas em comidas deliciosas.

Segundo Vanessa Cabral, nutricionista e líder do estande na Feira de Sustentabilidade, o objetivo daquela brincadeira em específico era sensibilizar a população acerca do consumo consciente de alimentos e da compostagem. “O Brasil está entre os 10 países que mais desperdiçam alimentos no mundo. É extremamente urgente conscientizar as pessoas a utilizar o alimento inteiro, ou seja, comer casca, comer semente, talo, porque é nesses pedaços, normalmente descartados, que mais se encontra nutrientes.”

Ela ainda ressalta que as peças descartadas dos alimentos são jogadas fora junto com plástico e metal, formando lixo orgânico que não é devidamente separado. Daí a importância da Feira da Green Nation.

“As comidas aqui degustadas exemplificam justamente isso: nós fizemos receitas deliciosas usando um alimento inteiro, inclusive a casca, que ninguém come, de uma maneira que as pessoas nem percebessem que estavam comendo aquilo que costumam desperdiçar”. Foi uma forma absurdamente inteligente de sustentabilidade, mas, infelizmente, nem todas as pessoas que visitaram o estande tinham em mente o conceito em si.

“Estamos conversando sobre produção de lixo orgânico e o que podemos fazer com ele, mas pouquíssimas pessoas se interessam em saber sobre isso. Elas querem entrar na estação apenas para comer e participar da brincadeira”, lamenta a nutricionista.

Devido a isso, Vanessa ressalta que a forma mais eficaz de sensibilizar a população a respeito desse tema é realizar campanhas como a Feira de Sustentabilidade da qual participou. “Acredito que só assim vamos conseguir: em eventos públicos de grande porte, em parques, onde as pessoas frequentam aos finais de semana, como também na educação das crianças, porque, se criarmos crianças conscientes, os adultos também serão”, emenda Vanessa.

Outro ponto importante que deve ser destacado é o desperdício, que não ocorre, em sua maior parte, dentro de casa, e sim em mercados e feiras de bairro. Mesmo assim, devemos ficar atentos ao lixo orgânico doméstico. Segundo Ewerton Silva, de 25 anos, uma das soluções mais viáveis, baratas e, consequentemente, sustentáveis, é ter uma horta no jardim. “Eu jogava muitos alimentos fora, frutas, resto de comida e, de alguma forma, eu queria mudar isso. Pesquisei e descobri que algumas dessas coisas poderiam servir de adubo. Então por que não criar minha própria horta e adubá-la com alimentos que antes iam para o lixo?”.

São ações como a de Ewerton, simples e corriqueiras, que fazem a diferença no futuro das gerações. Uma horta em casa é um belo exemplo de compostagem doméstica, processo de utilização de restos orgânicos como adubo, que impede o desperdício e auxilia na preservação do meio ambiente.

De acordo com Vanessa Cabral, a quantidade de alimentos produzida excede a capacidade de nós, seres humanos, consumir, contribuindo, assim, para o desperdício. Partindo desse pressuposto, conclui-se que a produção deveria ser cuidadosamente pensada e controlada. “Se houvesse menos comida disponível, talvez as pessoas se conscientizassem e não desperdiçassem tanto”, pondera.

Outras atitudes também podem ser tomadas em prol da sustentabilidade, que não agridam o meio ambiente e que, de quebra, preservem vidas inocentes. Atitudes como o veganismo, que exclui da dieta qualquer tipo de proteína ou derivado animal, formando uma alimentação à base de legumes, verduras e grãos.

De acordo com Luciana Eugênio, bancária e vegana há mais de 5 anos, o veganismo mudou sua vida. “Aprendi, por causa das ‘limitações’ que o veganismo impõe, que podemos utilizar integralmente os alimentos, já que não temos as mesmas fontes de nutrientes (carne) que a maioria das pessoas tem”, afirma.

Além disso, a relação do veganismo com o processo de compostagem se evidencia no jardim de Luciana, que, assim como Ewerton, quando morava no interior, plantava árvores frutíferas para consumo próprio e as adubava com restos de comida. “Gerava menos lixo e reaproveitava muito bem os alimentos para melhorar meu solo”.

Sustentabilidade diz respeito ao futuro, mas consumo consciente é sobre o presente. Dessa forma, torna-se obrigação de cada um de nós cuidar e controlar a alimentação, o desperdício e a reutilização, para que, no futuro, as próximas gerações não sofram as consequências de nossas atitudes. Daqui uns dez anos, ninguém sabe o que nos aguarda, mas a nutricionista Vanessa Cabral é otimista: “Eu espero, de verdade, que estejamos muito melhores, mas isso só vai acontecer se começarmos a agir agora. A alimentação é um recurso finito – se não controlarmos agora, uma hora ele vai acabar”, completa.

Horta-1Reportagem em áudio: Consumo consciente de alimentos (“Na ponta da língua”)

A DROGA DA DROGA

Muitas discussões acerca da legalização das drogas – principalmente a maconha, que, em todo caso, pode ser usada para fins medicinais – têm sido frequentes em sala de aula, entre estudantes e no círculo de trabalho. O problema é que muitas opiniões são positivas a esse respeito.

Comumente ouve-se alguém dizer que, se a legalização realmente acontecer, o tráfico e o consumo vão diminuir. Apesar de, sem dúvida, o proibido ser mais cobiçado e desejável – aquela tentação do ser humano de fazer o errado –, essa é uma ideia completamente equivocada. Pensar que um crime tão intrincado, elaborado e organizado, como o tráfico, acabaria com uma mera lei, é ilusão. Na realidade, ele aumentaria, porque a legalização facilitaria a movimentação das drogas pelo país, uma vez que não teria mais que ser “às escondidas”, ou, usando a forma culta, contrabandeada.

Quando à diminuição do consumo – outra utopia. Dependentes e dependentes em potencial teriam livre e fácil acesso às químicas prejudiciais à saúde.

Como tarefa de casa, devemos ter a consciência de que a maconha, acima de tudo, deve ser usada apenas e exclusivamente em casos de doenças graves, com receitas médicas, e sob supervisão. Para evitar o grande estrago que a legalização das drogas venha a causar, devemos, em prioridade, dar assistência àqueles que, em infortúnio, já caíram no declínio das substâncias químicas, cuidar para que isso não ocorra novamente, melhorar os atendimentos psiquiátricos e investir em técnicas de desintoxicação, além de ensinar as crianças, desde cedo, e dar um bom exemplo, de que as drogas, definitivamente, não são um bom negócio.

A FOBIA (IN)EXPLICÁVEL

É certo que os EUA se tornaram, após as ultimas eleições presidenciais, foco de muitas conversas e discussões entre rodas de amigos e familiares. Donald Trump tem se revelado um governante, de certo modo, polêmico, com suas teorias consideradas machistas e, principalmente, xenofóbicas.

Pode-se falar tudo e mais um pouco sobre Donald Trump – suas atitudes e discursos ofensivos e discriminatórios –, porém, julgar a construção do muro na fronteira com o México ou até mesmo o ato de deportar imigrantes ilegais, seria, ao menos, hipocrisia.

Hipocrisia talvez seja, para muitos, uma palavra forte. Entretanto, se pensarmos logicamente, dentro do nosso próprio país há discriminação contra estrangeiros. Como prova de tais palavras, basta observar as pontes e viadutos das grandes cidades, onde bolivianos se abrigam, sem oportunidade de emprego ou moradia decentes. Hipocrisia seria cobrar algo que nós mesmos não fazemos; pois, além de tudo isso, ainda existe a problemática dos refugiados da Síria.

Embora muitos países queiram alojar as vítimas da guerra na Síria, sempre haverá aquela dúvida, aquela suspeita, o medo involuntário de que, entre os refugiados, haja um “inimigo” escondido, alguém mal-intencionado.

Como conclusão desta hipótese, as leis que Donald Trump quer – e pode – instaurar na grande potência mundial, apesar de radicais e prejudiciais para boa parte da população, não são completamente inexplicáveis, e sim frutos de um dos grandes defeitos da sociedade atual e da personalidade humana: a estranha mania de sempre esperar o pior dos outros.

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